segunda-feira, 22 de junho de 2009

'Acorde Filho da puta! Sai da frente do meu bar seu lazarento!'

É o que escuto todo "santo" dia. Que grande merda! Já tive algum dinheiro, já tive uma casa, já tive uma família... Nada me sobrou. Sempre quando acordo são os mesmos elogios de sempre, ninguém pensa na história de um bêbado, acham que todos são o que são ou porque escolheram, ou por predestinação divina, tudo mentira. Não escolhi viver na rua mendigando um pedaço de pão ou algum dinheiro para comprar uma garrafa de vodka. Me chamem de degenerado, andem do outro lado da rua, me olhem torto, ou como fazem melhor, nem olhem para mim e vivam nesse mundinho de falsa felicidade que todos vocês estão vivendo. Compro aquela garrafa para talvez chegar nessa 'abstração' que todos vocês vivem.

Como já disse, já tive família. Meu pai era segurança, morreu ao tentar realizar seu trabalho quando um assaltante entrou no bar em que trabalhava e atirou no meio de sua cabeça. Eu morava perto, tinha 14 anos, corri quando ouvi o tiro, fiquei totalmente desnorteado ao ver meu pai caído no chão com sangue escorrendo de sua cabeça. Daquele furo me lembro até hoje, parece que ali se formou um vórtex que sugou minha alma. Não era mais criança. Minha mãe e minha irmã ficaram desconsoladas, coitadas, eu não tinha meios de ajudar, eu precisava, mas não podia, e vocês ainda têm coragem de dizer que existe um Deus???? NÃO EXISTE!!!

Esse não foi o pior acontecimento. A partir dali eu comecei a afundar a mim e ao resto da minha família. Saia com meus 'amigos', e ia beber até começar a rir e a rir, até não poder mais. Fazia isso porque o dinheiro que minha mãe ganhava da pensão que passou a receber por meu pai ter sido assassinado durante o expediente, não dava conta de todas as despesas. Minha irmã teve que deixar a escola, e depois de dois anos acabamos perdendo a casa. Minha mãe já não sabia mais o que fazer comigo, escutava seu choro todo o dia rogando para Deus para que me ajudasse. Depois de não mais aguentar ver minha mãe sem noites de sono, decidi parar. Começou a melhorar até certo ponto.

Era aniversário dela, e decidi fazer um bolo surpresa, contava com 17 anos. Tinha comprado todos os ingredientes, fiz o bolo com todo o carinho que um filho pode transmitir para uma mãe. Minha irmã ficou até com ciúme, eu ri dessa coisa boba e falei que no aniversário dela faria um também, ela tinha 12. Minha mãe estava demorando chegar, eu estava preocupado. A polícia chegou a minha casa e me disse para acompanhá-los até ao IML. Fiquei desesperado. Não podia ser, não de novo. Cheguei lá e me mostraram o rosto. Era minha mãe. Não aguentei sai correndo, vomitei um pouco a frente. Minha mãe fora esfaqueada. Eu consegui perceber o desespero no seu olhar, a súplica de: "Por favor meus filhos estão me esperando!". Mas não, não escutou. Eu jurei por tudo que iria vingá-la. Eu não podia acreditar. Continuei andando e o que via pela frente era o sorriso angelical dela, puro, sem nenhuma má intenção, a única coisa que queria era uma vida plena para seus filhos. Eu vagava e minha cabeça rodava estava absorto em seus sorrisos e na imagem dela morta. Não aguentava, 'NÃO PODE SER!!!!!'. PORQUE PELO AMOR DE DEUS ME RESPONDA O QUE FOI QUE EU FIZ???? As outras pessoas ao me verem saiam do lado da rua, fugiam, pareciam veados fugindo do leão, e a única coisa que fazia era tentar achar um alento para meu coração. Achei. Me destruí cada vez mais, cada dia alguma bebida para esquecer. Não tinha mais ninguém, minha irmã tinha se suicidado.

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