terça-feira, 3 de maio de 2011

Óculos escuros

Aquele cara de óculos escuros que anda rápido em direção que só ele e Deus conhecem esquece de tudo que há a sua volta. Ele atravessa a calçada com pose imponente, mas deixa escapar uma lágrima por debaixo das lentes negras. Lembra das dores de sua mãe, sente seu coração palpitar e diminue a marcha. Olha para o céu azul a fim de conseguir forças para não desabar em lágrimas até seu destino, mas aquelas nuvens e aquela paz só o perturbam ainda mais. Desfoco a visão e percebo que meu rosto está um pouco manchado, meu peito fica dolorido e começo a mudar minha velocidade de inspiração e expiração, aquelas mais curtas e essas longas. Lembro de minha mãe falando quando não tinha motivo para tal "Engula esse choro!", mas isso não adiantava muito, dessa vez pelo menos deu força para ele voltar a seu ritmo de passadas rápidas. Os muros correm ao seu lado e ele não presta atenção na calçada quase sem pedestres. Ele só quer andar e andar. Sei que quando chegar a meu destino meu ânimo não irá melhorar, talvez, piore. Lembra do passado, seus amigos que há tempos não revia, sua família que morava longe e a lágrima voltava a escorrer quando lembrava de sua mãe. Um choro mudo, sem arfar, sem gritar, somente uma vazão muito pequena de lágrimas, as vezes, nem caíam. Suas pernas por um momento bambeiam, mas recupero o equilíbrio e continua andando. Sua roupa pesa, seus sapatos grudam, seus óculos cegam. Cada passo que dou é um buraco tentando ser fechado. Ah! Meu Deus como queria um abraço agora, um lugar em que eu pudesse chorar e apenas me escutassem sem dizer uma palavra, como dói esse peito quente. Ele não entende o porque de amar tanto, gostar tanto, se apaixonar tanto, chorar tanto, não entende esse coração cheio. Não gosta de viver essas angústias exacerbadas. Aguenta quando o problema é isolado, mas quando surge vários, seu valor multiplica, sua cabeça lateja, seu corpo fica pesado, o sono vem e a lágrima escorre. Já não é mais como quando era adolescente, uma só basta, as outras se policiam para não sair. Chega em seus destino, olho para os dois andares convidativos mas tristonhos. Sem exitar abre a porta e entra. Olha para os lados à procura de alguma coisa. Infelizmente, acho. Olho para o rosto lindo da minha mãe no quadro e duas lágrimas escorrem. Tiro o óculos e tento sem êxito acariciar os cabelos de minha mãe. Minha queria porque choras tanto se te amo muito, minha mãe? Ela não responde, fica com aquele sorriso mesmo quando os cacos estão em seu rosto.

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