O começo de uma vida... Ou será morte?...

Estou odiando esses últimos dias. A única coisa bela e serena é a Lua. Tão cheia que parece estar transbordando sossego, tão quieta, tão maravilhosa, e as estrelas parecem que estão lá só para ressaltar a grandiosidade da Lua, o único ser que realmente sabe como viver nesses tempos, tempos que para mim são desesperadores. Atravesso essa rua do pesar olhando para o céu, pois parece que assim há alguma esperança para continuar a viver. Vou para meu trabalho, meio desnorteado, parece que não pertenço mais a esse mundo, todas as pessoas parecem estranhas, parece que acabei de nascer e foi me dado a ordem: “Viva!”... Uma ordem um tanto sem sentido... Não sei para que viver nem para onde irei...
O lugar onde trabalho tem um ar repressivo... Sinto-me muito preso... Pressionado... Parece tirar-me os sentimentos que me faz ser humano. NÃO AGUENTO MAIS!!!!!... Sinto olhares repressivos, olhares amedrontados, e olhares atordoados. Saí daquele prédio absorto em minha psicose, nunca olhando para trás, desconfiando de todos que passavam ao meu redor, tentando desviar daqueles olhares que pareciam tentar atingir o meu coração como lanças. Andei, andei e andei...
Aquela tarde que fugi de meus fantasmas parecia tão longe, tão inalcançável que pensei ter sido apenas um devaneio... Mas ao voltar a meu corpo percebi estar no mesmo mundo ameaçador de antes... Senti-me apavorado novamente, soltei um urro que veio do âmago de meu corpo, tão alto e tão cheio de sentimentos que senti todos os meus fantasmas indo embora... UAAAAAAAAAAAAAARRRRRRRRR!!!!!!
Olhei para cima aliviado, senti que o peso que carregava era somente ilusão, e a Lua, a Lua tão serena, tão sábia, parecia dividir desse meu novo alento. Percebi uma luz cada vez mais forte se aproximando do meu rosto e de repente... IIRRIIIIII, CRAQ! Sinto pessoas se movimentando atordoadamente a minha volta. Não consegui distinguir nenhum rosto porque minha visão estava turva e avermelhada, não entendi de início o que estava acontecendo. Só depois fui perceber que estava deitado na rua do pesar com o fluído que para muitos traz a vitalidade, mas que para mim só transportava a agonia para todo meu corpo... Sinto minha visão esvaecendo pouco a pouco... Meu sangue já recobrira boa parte da rua... Sinto-me finalmente livre... Agora posso ir em direção à Lua, para lá morar quieto e imóvel, absorto na calmaria desse ser, por todo infinito que ainda virá...